Caro amigo motociclista,
Hoje um colega e amigo motociclista convidou-me a fazer uma viagem de moto até a famosíssima Serra do Rio do Rastro, em SC, junto com outros aventureiros, para curtir suas curvas fantásticas. A despeito de minha impossibilidade de realizar tal jornada neste momento, o convite inspirou-me a finalmente escrever esse post sobre as viagens de moto. Minha esposa outro dia havia perguntado-me como que eu ainda não escrevera sobre esse assunto que me é tão caro...
Esse talvez seja o tema mais unânime quando falamos do mundo das duas rodas: viajar de moto é muito bom! Claro que gostamos de utilizar a moto no dia-a-dia, escapar dos engarrafamentos, pagar menos estacionamento em shoppings e coisas afins. Mas existe também o trânsito, a fumaça dos carros, os motoristas mal-educados, os ônibus, os corredores apertados, os buracos. Então no fundo, bem no fundo mesmo, o que realmente nos embala os sonhos é a possibilidade de pegar uma estrada, linda e perfeita, preferencialmente bem acompanhado, em um dia de clima ameno e sol brilhante.
Fonte: Google
Querendo ou não, a viagem de moto nos remete à aventura, o desafio e, na minha modesta opinião, ao auto-conhecimento. É uma sensação de liberdade fantástica sentir o vento no rosto e apreciar as novas paisagens a cada quilômetro, de uma forma integrada com o ambiente como só a moto pode proporcionar. O silêncio e a concentração limpam a mente e nos permitem jogar fora todo o estresse, fazendo com que a viagem pareça uma verdadeira terapia (e é mesmo!).
Sempre gostei muito de viajar e, graças ao meu pai, conheci várias regiões de nosso país de carro, o que na época era uma espécie de aventura. A viagem de moto povoa meu imaginário desde a adolescência, quando comecei a ler as revistas especializadas da época (Motoshow, Duas Rodas e ficava por aí...). Já naquele tempo alguns loucos (sim, porque somente um louco encarava as estradas dos anos 80 com as motos dos anos 80...) faziam viagens pelo país e pelo mundo, enviando depois suas fotos e narrativas para as revistas. Desbravar os recantos do nosso país em uma moto era um sonho que me encantava. Talvez o ápice da aventura naquela época (e para muitos até hoje) fosse a viagem até Ushuaia, no sul da Argentina. O tal "fin del mundo" era de dificílimo acesso, estradas péssimas, poucos recursos logísticos no caminho, policiais corruptos e um clima complicadíssimo. Mesmo assim, vários motociclistas chegaram lá, com motos bem menos cheias de recursos que as atuais.
Eu também "viajava" com as reportagens sobre o Paris-Dakar daquela época, com o pessoal passando de motos em paisagens fantásticas, que pareciam coisa de outro mundo. Ok, eu sei que aquilo era uma competição esportiva e aqui estamos falando de viagens, mas muitas vezes me imaginei cruzando aqueles desertos em duas rodas, a sensação plena de desbravar novos mundos. Lá pelos 15 anos, eu e minha "gangue" da Mobylette fazíamos viagens entre a cidade onde morávamos e um longínquo distrito que ficava a 12 km de distância. Não me pergunte como conseguíamos andar na BR com um ciclomotor sem placa...
Para encurtar a história, somente em 2010 realizei meu sonho de fazer uma pequena viagem de moto. Aproveitei um feriado-ponte e coloquei o pé na estrada. Na época eu tinha uma Suzuki DL 650 V-Strom, moto perfeita para viagens. Era uma terça-feira de outubro e na véspera eu lembro de ter preparado a moto (abastecida, calibrada, limpa), separado as roupas certas (capacete, casaco, calça, botas), além de alguns extras para minha segurança, como um reparador automático de pneus. Na noite anterior, todavia, caiu o mundo e choveu como há muito não se via. Cheguei a pensar que a oportunidade estava perdida...
No tal dia, levantei cerca de 6h da manhã e olhei pela janela. Nenhuma nuvem no céu, limpo e claro. Uma brisa fresca e agradável soprava, me chamando para a estrada. Não tive dúvida e parti logo. Foi um trajeto relativamente curto, de aproximadamente 380km, mas muito prazeroso. Lição breve aprendida logo de cara: coloquei apenas uma camiseta por baixo do casaco e logo o frio começou a incomodar. Sorte que eu havia levado mais uma camiseta de manga longa, pois parei em um posto e coloquei por cima da outra, aliviando na hora. É horrível sentir frio na moto, pois você começa a contrair os músculos e logo o corpo inteiro está doendo.
Saí do Rio de Janeiro em direção a Angra dos Reis pela BR-101 (a famosa Rio-Santos), depois subi a estrada para Barra Mansa, passando pelo distrito rioclarense de Lídice, a RJ-155. Esse trecho é realmente fantástico, com curvas maravilhosas em uma estrada de excelente qualidade e pouco movimento. A subida da Serra proporciona paisagens incríveis a cada curva. A única ressalva fica por conta dos túneis históricos, cujo chão ainda é feito de pedras tipo pé-de-moleque, que agravadas pela umidade natural da montanha, transforma o chão em uma espécie de sabão, muito perigoso. Além de tudo, os túneis são bem escuros.
Fonte: arquivo pessoal
Um aspecto interessante de viajar de moto é que, ao contrário de quando andamos na cidade, onde somos os vilões, os motoqueiros, aqueles que quebram os retrovisores dos carros, na estrada existe uma certa admiração e respeito. Nesse dia, era comum parar em um posto de gasolina e pessoas virem conversar, saber para onde eu estava indo, como era a moto, etc... Lembro que um rapaz que estava com toda a família em um carro veio conversar, dizendo que ele fazia parte de um motoclube em SP, que curtia viajar de moto também e acabou dando algumas dicas sobre as estradas.
Fonte: arquivo pessoal
Depois de subir a RJ-155, cheguei a Rodovia Presidente Dutra, onde pude aproveitar suas boas condições para dar algumas esticadas na moto, momentos que só a estrada proporciona. Aquele trecho da Serra das Araras é muito bonito, mas também cansativo, pois as curvas são muito fechadas. É para redobrar a atenção. Voltei ao RJ à tarde, cansado, mas extremamente feliz pela aventura. Embora curta, foi suficiente para experimentar um pouco das delícias de viajar de moto.
E você, qual foi a melhor viagem?
Um abraço e boas estradas!
Fonte: arquivo pessoal