sexta-feira, 1 de março de 2013

O prazer de viajar de moto

Caro amigo motociclista,

Hoje um colega e amigo motociclista convidou-me a fazer uma viagem de moto até a famosíssima Serra do Rio do Rastro, em SC, junto com outros aventureiros, para curtir suas curvas fantásticas. A despeito de minha impossibilidade de realizar tal jornada neste momento, o convite inspirou-me a finalmente escrever esse post sobre as viagens de moto. Minha esposa outro dia havia perguntado-me como que eu ainda não escrevera sobre esse assunto que me é tão caro...

Esse talvez seja o tema mais unânime quando falamos do mundo das duas rodas: viajar de moto é muito bom! Claro que gostamos de utilizar a moto no dia-a-dia, escapar dos engarrafamentos, pagar menos estacionamento em shoppings e coisas afins. Mas existe também o trânsito, a fumaça dos carros, os motoristas mal-educados, os ônibus, os corredores apertados, os buracos. Então no fundo, bem no fundo mesmo, o que realmente nos embala os sonhos é a possibilidade de pegar uma estrada, linda e perfeita, preferencialmente bem acompanhado, em um dia de clima ameno e sol brilhante.

Fonte: Google

Querendo ou não, a viagem de moto nos remete à aventura, o desafio e, na minha modesta opinião, ao auto-conhecimento. É uma sensação de liberdade fantástica sentir o vento no rosto e apreciar as novas paisagens a cada quilômetro, de uma forma integrada com o ambiente como só a moto pode proporcionar. O silêncio e a concentração limpam a mente e nos permitem jogar fora todo o estresse, fazendo com que a viagem pareça uma verdadeira terapia (e é mesmo!).

Sempre gostei muito de viajar e, graças ao meu pai, conheci várias regiões de nosso país de carro, o que na época era uma espécie de aventura. A viagem de moto povoa meu imaginário desde a adolescência, quando comecei a ler as revistas especializadas da época (Motoshow, Duas Rodas e ficava por aí...). Já naquele tempo alguns loucos (sim, porque somente um louco encarava as estradas dos anos 80 com as motos dos anos 80...) faziam viagens pelo país e pelo mundo, enviando depois suas fotos e narrativas para as revistas. Desbravar os recantos do nosso país em uma moto era um sonho que me encantava. Talvez o ápice da aventura naquela época (e para muitos até hoje) fosse a viagem até Ushuaia, no sul da Argentina. O tal "fin del mundo" era de dificílimo acesso, estradas péssimas, poucos recursos logísticos no caminho, policiais corruptos e um clima complicadíssimo. Mesmo assim, vários motociclistas chegaram lá, com motos bem menos cheias de recursos que as atuais. 

Eu também "viajava" com as reportagens sobre o Paris-Dakar daquela época, com o pessoal passando de motos em paisagens fantásticas, que pareciam coisa de outro mundo. Ok, eu sei que aquilo era uma competição esportiva e aqui estamos falando de viagens, mas muitas vezes me imaginei cruzando aqueles desertos em duas rodas, a sensação plena de desbravar novos mundos. Lá pelos 15 anos, eu e minha "gangue" da Mobylette fazíamos viagens entre a cidade onde morávamos e um longínquo distrito que ficava a 12 km de distância. Não me pergunte como conseguíamos andar na BR com um ciclomotor sem placa...

Para encurtar a história, somente em 2010 realizei meu sonho de fazer uma pequena viagem de moto. Aproveitei um feriado-ponte e coloquei o pé na estrada. Na época eu tinha uma Suzuki DL 650 V-Strom, moto perfeita para viagens. Era uma terça-feira de outubro e na véspera eu lembro de ter preparado a moto (abastecida, calibrada, limpa), separado as roupas certas (capacete, casaco, calça, botas), além de alguns extras para minha segurança, como um reparador automático de pneus. Na noite anterior, todavia, caiu o mundo e choveu como há muito não se via. Cheguei a pensar que a oportunidade estava perdida...

No tal dia, levantei cerca de 6h da manhã e olhei pela janela. Nenhuma nuvem no céu, limpo e claro. Uma brisa fresca e agradável soprava, me chamando para a estrada. Não tive dúvida e parti logo. Foi um trajeto relativamente curto, de aproximadamente 380km, mas muito prazeroso. Lição breve aprendida logo de cara: coloquei apenas uma camiseta por baixo do casaco e logo o frio começou a incomodar. Sorte que eu havia levado mais uma camiseta de manga longa, pois parei em um posto e coloquei por cima da outra, aliviando na hora. É horrível sentir frio na moto, pois você começa a contrair os músculos e logo o corpo inteiro está doendo.

Saí do Rio de Janeiro em direção a Angra dos Reis pela BR-101 (a famosa Rio-Santos), depois subi a estrada para Barra Mansa, passando pelo distrito rioclarense de Lídice, a RJ-155. Esse trecho é realmente fantástico, com curvas maravilhosas em uma estrada de excelente qualidade e pouco movimento. A subida da Serra proporciona paisagens incríveis a cada curva. A única ressalva fica por conta dos túneis históricos, cujo chão ainda é feito de pedras tipo pé-de-moleque, que agravadas pela umidade natural da montanha, transforma o chão em uma espécie de sabão, muito perigoso. Além de tudo, os túneis são bem escuros.

Fonte: arquivo pessoal

Um aspecto interessante de viajar de moto é que, ao contrário de quando andamos na cidade, onde somos os vilões, os motoqueiros, aqueles que quebram os retrovisores dos carros, na estrada existe uma certa admiração e respeito. Nesse dia, era comum parar em um posto de gasolina e pessoas virem conversar, saber para onde eu estava indo, como era a moto, etc... Lembro que um rapaz que estava com toda a família em um carro veio conversar, dizendo que ele fazia parte de um motoclube em SP, que curtia viajar de moto também e acabou dando algumas dicas sobre as estradas.

Fonte: arquivo pessoal

Depois de subir a RJ-155, cheguei a Rodovia Presidente Dutra, onde pude aproveitar suas boas condições para dar algumas esticadas na moto, momentos que só a estrada proporciona. Aquele trecho da Serra das Araras é muito bonito, mas também cansativo, pois as curvas são muito fechadas. É para redobrar a atenção. Voltei ao RJ à tarde, cansado, mas extremamente feliz pela aventura. Embora curta, foi suficiente para experimentar um pouco das delícias de viajar de moto.

E você, qual foi a melhor viagem?

Um abraço e boas estradas!

Fonte: arquivo pessoal

5 comentários:

  1. Irizaga, muito bom o texto! Vc falou muito bem e com propriedade em vários aspectos: a sensação de liberdade, a higiene mental, o auto-conhecimento, as curvas, as paisagens e acima de tudo, a admiração que causamos mesmo nas pessoas. São as mesmas sensações que sinto quando pego estrada e acho que os irmãos motociclistas em geral devem sentir o mesmo.

    Sobre essa questão da admiração que provocamos nas pessoas, ocorreu uma situação engraçada recentemente.

    Fomos um grupo de 6 amigos para o encontro anual de Tiradentes-MG. E é aquilo de sempre, a estrada povoada por todo tipo de formação: solitários, duplas, trios, quartetos e gangues de motos nas estradas! Um sensação maravilhosa ver na estrada milhares de companheiros de estrada se cumprimentando, buzinando, trocando idéia nas paradas de abastecimento, descanso ou alimentação. Ou na hora do famoso xixi! rs... Enfim.

    Numa determinada parada, já voltando para o RJ, nosso grupo parou para abastecer e havia uma fila gigantesca de moto para o abastecimento. Era impressionante! Nunca tinha visto aquilo na vida!

    Estavamos lá na fila do abastecimento, e parou próximo de nós, uma família num carro que admirava aquele mar de motos. Nesse momento, a vovó da família se aproxima de nós e pergunta para um amigo:

    “Meu filho, vcs estão em quantos no grupo? É alguma viagem em família?”

    Meu amigo, sacanamente responde:

    “É sim! Uma irmã nossa casou em MG e a família toda foi pro casamento de moto!”

    A vovó responde:

    “Nossa! Que família grande vcs têm!”

    E nós, observando a cena e o diálogo, tentávamos segurar o riso ao máximo. Depois que ela se afastou, soltamos gargalhadas escandalosas! Foi muito engraçada a cena.

    Mas hoje, refletindo melhor, a vovózinha não estava errada:

    Que família grande nós somos!

    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  2. Agora sobre a minha viagem mais marcante de moto.

     

    1993. Eu então com 20 anos.

    Era uma 6ª feira. Cheguei na casa do meu pai para almoçar com ele. Mesa posta e durante a refeição fomos trocando uma idéia.

    De repente, ele solta:

    “Filho, comprei uma moto nova. Um Suzuki DR800. Só que foi na Suzuki de Belo Horizonte. Preciso ir buscar ela lá amanhã, sábado, para trazer ela no domingo pro RJ e emplacá-la na segunda feira.

    Vamos de carro. E na volta vc traz o carro e eu a moto. Vc topa ir comigo buscar a moto?”

    Que pergunta boba né? A resposta era mais que óbvia. Mas impus uma condição: Quem traz a moto para o RJ sou eu!

    Ele disse que seria ele, eu disse que não abria mão de pilotar a moto, e blá, blá, blá. Depois de muita negociação chegamos a um meio termo: Metade do caminho para cada um.

    Isso daria + ou – uns 250KM para cada um. Não estava muito bom pra mim não... porque eu queria fazer o trajeto todo. Rsrs... mas o velho já tinha cedido em me deixar pilotar, era melhor aceitar aquilo do que nada. Rsrs...

    Sábado de madrugada pegamos o carro e partimos rumo a BH. Pedi para ele dividir a direção comigo. Ele disse: Ok. No meio do caminho eu troco.

    Sei que dormi a viagem toda. Ele tinha um diplomata 92 ( o último fabricado no Brasil) e o carro era um avião: potente, silencioso e confortável. Só fui acordar em BH.

    Quando percebi a trapaça dele, eu disse: Pô cara, vc me trapaceou! Sacanagem!

    Ele deu um riso de moleque de canto de boca e fomos direto para a loja retirar aquele tesouro que nos aguardava lá, linda,brilhando e reluzente.

    Aí, meu pai me deu a direção do carro e pegou a moto.

    Fomos até a casa da minha avó paterna. Almoçamos e dormimos. E assim foi o sábado.

    Domingo, 05:00 da manhã estamos prontos para voltar para o RJ.

    Eu vestia uma calça 2 pele de lã, uma calça jeans, e uma calça de moletom por cima. Eram 3 calças.

    Uma camisa de manga curta, uma camisa de manga comprida, um casaco de moletom e um casaco de couro. 4 camadas de roupas.

    Uma luva de lã e uma Luva de couro.

    3 meias e uma bota. E fomos para a estrada.

    Acredite vc ou não, nada disso foi suficiente para reduzir o frio. Foi a coisa mais congelante que já senti na vida.

    Mas mesmo assim, a disposição para pilotar não diminuía em nada.

    E assim fui. Que moto! Que estrada! Que viagem!

    Muita serração, muito frio. Mas em compensação estrada vazia.... E tome de acelerar a bichona de 800 cilindradas naquela estrada maravilhosa.

    E meu pai atrás, me seguindo de carro.

    Paramos varias vezes para fazer fotos. Da estrada, da moto, das paisagens e poses em cima da moto.

    Foi tão gostoso que nem percebi que já havia passado os 250 Km combinados com o meu pai.

    Foi então que ele encostou em mim na estrada, começou a piscar farol e buzinar. Até que emparelhou ao meu lado e gritou:

    “Para, é a minha vez. vamos trocar!”

    Nesse momento, lembrei da sacanagem que ele havia feito de não dividir o carro comigo na ida para BH.

    Levantei a viseira, reduzi a velocidade e disse: “Negativo! Vc trouxe o carro sem dividir, então eu vou levar a moto ate o RJ.”

    Joguei uma marcha pra baixo, acelerei e fugi do velho. FUI!

     A cara dele de perplexo e puto comigo era impagável! Rsrsrs...

    Ele tentou me alcançar, mas não teve jeito, corria o tempo todo para fugir dele! Rsrs...

    Mas a alegria durou pouco, a gasolina estava acabando e tive que entrar num posto para abastecer. A grana era dele né? Tive que parar!

    Parei num posto logo depois de Juiz de Fora e acabamos trocando. Logico que ele reclamou comigo por eu ter corrido muito. Mas tudo na boa.

    E assim foi. Ele trouxe a moto ate em casa.

    Foi divertido, foi inesquecível.

    Essa foi a melhor viagem de moto da minha vida.

     

    ResponderExcluir
  3. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  4. Pessoal estamos com novo site e ótimas ofertas para todos os tipos de gostos.
    Visiti Motocicleta

    ResponderExcluir
  5. Meu sonho é comprar uma V-Strom 650 da Suzuki e sair sem rumo em uma bela estrada, sem a agitação da cidade, com o vento fresco batendo no rosto, em um belo dia de sol!

    ResponderExcluir